quinta-feira, 2 de junho de 2011

eram algumas vezes

Bela, formosa, carrega uma flor.
Carrega a estrada, o pó, o barro de que foi modelada.
Carrega as células, os núcleos, os fios de cabelo, molhados, todos enxarcados. Leva ainda quem carregou a enxada, sepultou um cachorro, plantou uma árvore. Quem disse adeus para o horizonte, quem disse adeus para conhecer a cidade, quem beijou o seu amor depois que a lua apareceu. Ela leva todos consigo, o cantarolar dos pássaros, dos grilos, as penas, os bicos, as asas. Os velhinhos que voltavam para casa depois da missa, depois da bocha, depois das fofocas, das danças, dos domingos. As crianças que desapropriavam os frutos, rastejavam no mato, subiam as árvores. Os bêbados, os sujos, as mulheres tristes, os homens chorões. Carregava os sons das carroças, dos carros modernos, das motos, dos cavalos e dos bichos soltos.
Idade pequena, só pode observar o sol que se mostra por entre as folhas e pensar que fora seu pai que acendeu a luz.