segunda-feira, 29 de março de 2010

domingo, 14 de março de 2010

Duas horas das manhãs

Eu quase fui tomada pelo vento
Vendo tomadas de

“Vendo tomadas!”

Vender vem de ver

Inverter

O inverso é promíscuo
O seu verso é sagrado
nem
velcro, nem viado.

Eu sei,
o canto bonito
é o canto da esquina
que ele financia
as meninas.


Eu sei,
a bolsa bonita
é a bolsa de valores
que eles rodam
e eles inflam de horrores.


Eu sei,
os homens e mulheres estão ouvindo o versículo que fazem dos outros pobres, negros e prostitutos e não se limpam com a piedade que excitam suas larvas barrigudas de preconceito.


E os seus versos, hein?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Nomeie depois de ler

Quero escrever uma carta suicida. Hoje é um sábado ensolarado, e isso ainda sei descrever. Meus sentidos parecem funcionar como a ciência redige cada prescrição inovada que institui. Ao meu redor os raios solares penetram num esplendor sinistro e fixam na minha derme por alguns instantes que me ferve o corpo. É um dia ensolarado e os carros correm em direção às compras, aos supermercados envenenados de promoções, aos fast-foods, às suas casas, às praias, às mortes. Eles correm em direção a morte, mas juram gozar da vida. Caminhando por entre as sombras algumas mães, alguns filhos, alguns empregados, alguns “sem título”. Devem ter a Identidade. São cidadãos (isto foi um amigo que disse)! Os que perambulam não, estes não tem e tampouco querem (isto é o que eu escrevo em uma carta suicida). Por isso não quero teu acato, leit@r, se não concordas. Quero escrever para que me compreendas no último fio que me segura a existência e me envolve pelos contratos estabelecidos enquanto vivi. Alguns registrados em livros gigantes (conheci em um cartório pesquisando certidão de óbito, são muito grandes, e as meninas que lá trabalham quase não conseguem carregar), outras relações de gente, outros apenas de papo, de sala de aula, de vizinhança, de sobrevivência. Cansada. Acordar quando deseja o sonho, sonhar quando deseja estar criando. Correr porque o sinal fecha, pagar quando o sinal indica o número. Sorrir quando a roda força, forçar quando chorar não faz sentido. As linhas são retas e quando entortam é preciso seguir. Que merda! Eu não quero! Desculpas não me preenchem mais, minha vida é boemia na inserção de Agá-dois-ó: câmera Agá-dê, Agá-dê de muitos gigabytes. Humanidade, esse é um Agá-dê-merda! O mundo não é o meu prédio. Meu prédio é uma boemia.
O prédio é uma pira, uma merdinha forrada de cimento e tinta moldando pessoas que não expelem o que lhes afligem: nenhum grito de prazer. E todos gritando pra que se pare de gritar pelo parar de gritar. Moro lá, ou sou parte dele (Isto era pra ser uma pergunta). Uma pedra. Um escombro. Sou uma suicida em um prédio suicida.
Neste exato momento alguns seres humanos agonizam em sua hora de morte. Cada um em suas condições. Uns em um hospital de altíssima tecnologia, com os familiares ao seu redor e o padre ungindo dos pecados. O outro era soldado, morrendo pela pátria, sem ninguém. Uma criança em uma catástrofe da natureza. Um velho em um acidente. Um pássaro que chocou com um carro espatifando-se no asfalto. O verme que morreu com todos eles. Olha! O verme é o derradeiro a morrer! Pior que verme, todos somos pior que verme. Pior não seria a palavra certa, e nem certa eu seria se dissesse que não fosse pior. Então que fique em prol da linguagem e que julguem através do ‘prazer comunicado’.
Esta parte da carta suicida, é o espaço em que eu descrevo a minha vida







Como mencionado acima, muito vivi.
Sarcasmo e deboche são como Vodka para quem nunca havia bebido nada com teor alcoólico antes. Inundante. Entorpecente que se leva em baixo dos braços para as filas, dos ônibus, dos postos de saúde. É com isso que se lê os jornais e apenas com isso que se repete a leitura das mesmas colunas. E se continua a ler isto.
Uma carta suicida reclama de tudo. Não reclames, leit@r se isto lhe fere a alma. Não reclames se isto nada lhe fere. Escolheste ler. Não é uma carta endereçada, não é direcionada. A solidão a acompanha, assim como acompanha a morte pensada por si mesma. Covarde ou corajosa? Nunca desvendei o mistério, nem me orgulho de ter de me conceituar em um dos termos. Que a morte seja plural, que seja singela.

- E todos voltaram com as flores e deixaram seus violões. A chuva apagou os toques e inchou as madeiras. Cantaram aquelas canções nada convencionais e planejaram a ira de milhares, trazendo à tona as angústias de muita gente. Um copo de plástico decorava a sepultura que era de um cinza chapado, que se via sobrepondo as vontades de um cadáver que nada mais queria, a não ser voar e se esfarelar em pedaços de sentimentos vividos.