quinta-feira, 30 de julho de 2009

À trabalho

Acho que era inverno. Era frio. Talvez fosse a madrugada ou o sonho, porque pude ver o sol, e vi ela por lá. Senti o perfume, ouvi os passos, contei os segundos para me aproximar. Ela sorriu, perguntou sobre mim, sobre minha família e amigos. Disse que estava tudo bem, como costume confortei suas indagações esperando pelo tempo. Os óculos me cegaram refletindo o sol, segurei sua mão: Suor. Acho que era primavera. Era quente. E as folhas no chão? Eram poesias, memoriais, depoimentos, diários de inocentes. Não era outono. Pouco importa a estação, estava com ela, a procura de uma estação: esperar pelo metrô e fugir. Ah! A metrópole nos espera, e lá o tempo com seu sopro a nosso favor, tanto sufoca, quanto liberta. Por que não a beijei? Ao invés de pensamentos possíveis? Acho que era inverno. Era frio. Entrei no café e busquei pelo informativo local:

- Por favor, café com leite e muito açúcar.

sábado, 25 de julho de 2009

Para uma nova despedida

Num repente caminhar saltitante, mas leve, ela farejou um ambiente já conhecido com precisão.

Tudo tão íntimo, no terceiro olhar já é estranho.

A música que ouvia em seu mp4 era a mesma que ouvia em outras despedidas.

Agora eram outras pessoas, e era outro lugar que desvendava.

A música, a mesma, porém all these places have their moments.

E um dispositivo biológico a fez continuar seus passos em câmera lenta.

A música faz sentido, principalmente em seu toque misterioso, que jorra lembranças.

There are places I remember...

E já no outro dia, no mesmo lugar, ainda desfrutava a detetive enrustida naquela mulher.

Aquele lugar estava estranho de novo. São os mesmos lugares, Though some have changed.

A mesma música para outra despedida.

Ela se imagina em uma calçada em um dia frio no meio da multidão. Só na multidão.

Porque é um corpo que se arrasta e cheira o vão deixado pelo perfume dos que partiram.

Talvez tenha sido ela que partiu: A vida, como ela era. Ela, a vida. Partiu uma maçã e comeu.

Lembra de tudo. De todos os rostos e abraços e afetos. Agora mais vivaz.

Por favor, fundo musical!

Play.

Os rostos aparecem de novo: Some are dead and some are living.

Ela não percebe que é o seu rosto que reflete na água e já lhe marca a idade.

De quem amou?

In my life i've loved them all...

Ela precisa ouvir de novo. E escreve. Escreve com as dores de quem sente o frio proposital.

Escreve para marcar um novo rosto.

Para ouvir de novo...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dia II

A sala é estranha
O colchão é estranho
O quarto também
O quarto também é estranho
Também a cozinha
O banheiro, o banho.
O banho e o quarto salvam
Na solidão momentânea
Tanto quanto a rua
que é estranha...

domingo, 12 de julho de 2009

Dia I

A escrivaninha é branca
O armário é branco
O teto é branco
A cortina é cinza
O asfalto é cinza
O lençol é cinza
Um cinza esbranquiçado como a fumaça
Um branco acinzentado como a vidraça:
que é parede.
Minha parede cristalizada...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Dose de pontos que não formam uma reta

Ela sentiu dormência
apenas
As pálpebras pesaram,
O sonho descoloriu
película do "primeiro cinema".

Como protagonista agiu
Sem toque e sem cheiro
Breve, ligeiro
Como verme deixou
- o desejo costumeiro -
O corpo contorcer:

Torcer.
Vibrar.
Enojar.

Sem osso, promoção:
Costela sem osso.
O que é esse corpo?

Que desvia às margens
Que beira acidentes
Que produz viagens:

Aventura, loucura, ruptura!
Tormentos, fragmentos, excrementos!
Meu, teu, a-teu!
Meus, teus, d-eus!

O que é esse corpo?
Papel plural, cultural...

Grito:
Anestesia para a mente!

Indago:
Anestesia pára a mente?

Imploro:
Estesia para o corpo do ente!

Agulha letárgica
Na espinha dorsal
do ser.

Por que unidos são um disperso.
Um?

O que é esse corpo?
Diga-me antes de eu responder.
Quem vais escolher
dos teus eus para me dizer?

O que?