quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Viagem ao Desdobrar da Terra

Existia um canteiro de flores perto das bananeiras que o casal descansava. Na peleia de consertar suas bicicletas e tornar à viagem, ambos esperavam primeiro, o sol nascer. E o sol foi se abrindo e corando as tonalidades das flores, bananas, capoeiras. O casal se aprumou na moita seca de forma a sentir as extremidades das securas dos matos massagearem suas costelas. No outro dia, que pra elas, era o mesmo, de novo observaram aquele vagaroso parto que distanciava o sol da terra. Mediram, cortaram, lixaram. Pensaram sem pressa, como a engenhoca poderia sobrevoar. Passaram-se outras aventuras do sol. Das bananas elas se alimentaram, das flores os perfumes, do mato a cama, dos seus corpos, suas cobertas. A escolha foi determinada antes do anoitecer de muitos dias depois, porque a velocidade da sombra não poderia alcançar um raio antes do próximo anoitecer. E no abraço denso, os estiletes cortaram as correntes de sangue, e assim, chegaram na queda da lua, no giro da terra, na ponta do sol.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Dos gumes duplos, já se cortou
Fiapos obstruindo unhas
E outros marcando dentes.
Dentre marcas, de quatro letras:
Ferradura exposta.
Nunca se ouve
Nunca houve
Ou vê-se, apenas.

violão de(s)conserva, conversa, com versos

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Numa noite vazia na Vila de Cheias

Os Pingos assombraram a dura pedra
A se lamentarem das gotas ancestrais
Como cantiga de roda as luzes sopraram
A tossir sombras:
"São Brás! São Brás!"
- São brasas!
Lavas lavaram assentos antigos
E Tosse pôs-se a tossir em minúsculos intervalos
Nas  valas as sombrinhas projetavam flores.
- Flôres esticou os braços do rio!
Num abraço risonho e sombrio
O brilho do som pairou no sonho que riu
Para Tosse Flôres ali mesmo parir.
Dos telhados um gato miou,
Eram cobras dançantes a cobrar(em) suas casas que a água cobriu,
Sem Pingo a latir por sobre as gotas,
as flores tossem perfumes podres...
O barulho assustou Dr.Padre que chamou Sr.Pobre:
com pouco a perder em pedra dura.
Tosse Flôres teve filhotes, três de olhos fechados.
Sr.Pobre que nadou (do substantivo nada) para Flôres salvar
Tossiu na noite escura sem parar.
Agora reza missa o Dr.Padre, Pingo e as cobras,
Sr. Pobre jaz de olhos fechados.
- A casa afundou com ocês:
Sr.Pobre, Tosse, Gato e três filhotes Flôres.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Girassol

7 centos
130
outros para contar
conto agora, canto antes
quanto dura sol?

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Aguardo roendo as unhas que roem os pensamentos.
Já é final da semana, mulher,
um quarto de tempo no teu tempo quinto.
Vitrais dirão o que meus olhos vêem daqui.
O teu silêncio que vela com tuas lágrimas
É interrompido por um grito livre, mas confinado, ainda.
Grita!
Grita comigo, garota...
Joga a tinta no cabelo, deve estar alvo.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

eram algumas vezes

Bela, formosa, carrega uma flor.
Carrega a estrada, o pó, o barro de que foi modelada.
Carrega as células, os núcleos, os fios de cabelo, molhados, todos enxarcados. Leva ainda quem carregou a enxada, sepultou um cachorro, plantou uma árvore. Quem disse adeus para o horizonte, quem disse adeus para conhecer a cidade, quem beijou o seu amor depois que a lua apareceu. Ela leva todos consigo, o cantarolar dos pássaros, dos grilos, as penas, os bicos, as asas. Os velhinhos que voltavam para casa depois da missa, depois da bocha, depois das fofocas, das danças, dos domingos. As crianças que desapropriavam os frutos, rastejavam no mato, subiam as árvores. Os bêbados, os sujos, as mulheres tristes, os homens chorões. Carregava os sons das carroças, dos carros modernos, das motos, dos cavalos e dos bichos soltos.
Idade pequena, só pode observar o sol que se mostra por entre as folhas e pensar que fora seu pai que acendeu a luz.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O teu deus

Eu não sabia que teu deus era tão especial



Que ele te conta histórias de ninar


Só para ti.


Canta contigo


Acorda contigo


Eu não sabia que teu deus era só teu.


Que ele conta moedas ao teu lado


Ensina estratégias de multiplicá-las


Só para ti.


Eu não sabia que teu deus ama só a ti


E só a quem tu amas.


O teu deus te protege,


O teu deus te segue,


O teu deus te orienta


O teu deus vive só para ti.


O teu deus não quer olhar para outros


Não quer ensinar a outros


Não quer acordar, nem cantar com outros.


O teu deus é só teu.


É todo teu, para ti.


Eu não sabia que teu deus não me ama


Nem aos amigos, nem aos moribundos, vagabundos.


Eu não sabia que teu deus não estaria nos cobertores,


Que não os teus.


Eu não sabia que teu deus era só teu.


Só teu, para ti.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Três anos depois.

Em meio à surpresa triste
As lembranças evidenciam
Cada palavra ecoada em meus ouvidos:

O nome que pronunciava sem o "i".
"i"! Se você soubesse da sua morte
Correria contar com entusiasmo,

Se...

Tamanha fé cega exibisse seu coração,
que se fragmenta parado, agora,
poderias cunhar com crochê toda a borda.

E já não era hora de trazer o chimarrão?
De caminhar pelas ruas delineando o suor?

Grandes sorrisos, dos grandes olhos verdes,
D. Leonina se foi.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

tempo...

para descoisar.

quem sabe aqui, algo: http://bolhadegude.tumblr.com/

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

ce - n - sura*



* n substantivo feminino
Regionalismo: Índia, Moçambique.
suco extraído da espata de diversas palmeiras, esp. de coqueiro [Us. como bebida refrescante e para levedar; converte-se tb. em vinagre e em aguardente] - HOUAISS

D. Infância tem 50 anos

Como compreender o que aquilata o ser?
O que absorve? O que envolve?
No sereno, seca,
No dia, rumina canções.
Como esquecer dores?
É tudo o mesmo remédio.
Ela vai embora e enxuga a testa.
Quer o sol todas as noites,
e a lua, ao meio-dia.
Como querer decifrar as correntes?
De metal, de água, de gente?
Como abrilhantar os vícios e sujar as virtudes escritas em prédios invisíveis andantes?
Se ela respira, é porque aspira um pouco de solidão
Grita para os próprios poros, suando feito o mar.
- Nem sempre as escolhas são as certas!
E ela se pergunta, o por que das escolhas?
Quem quer comprar um rótulo?
Uma cor?
Um sexo?
Um beijo!
Ela sonha com filmes impossíveis, 
lê livros insuportáveis, 
ama cada pó que dorme nas prateleiras do quarto.
Ama elas também.
Como congelar os órgãos para assistir a vida?
Cada capítulo, com final trágico, 
Cada cofre, abundante de flores,
Cada animal deleitando-se em sua selvageria.
- Ingenuidade. Imagine...como seria?
Ela deitou no asfalto e tatuou a pele com a ruptura do mundo. Deixou um bilhete aquarelado, que morreu na terceira quadra, por um carro voador de três asas, três pneus, três motores, três motoristas, três cores.
Como não conseguir lembrar?
É a dor que elimina, salva, preenche, esvazia, regurgita, ensina, cospe na tua cara! Na minha cara.
Como saber de onde vem a dor?
De onde vem o "se sentir bem"?
Como ter certeza e tropeçar de olhos abertos?
Como dobrar a esquina pra dizer que ama alguém?
É tudo simples. Modesto.
Um Modesto de "M" grande, gigante, do tamanho do universo.
Por que o universo parece mais complexo e não tão Modesto?
Ela não sabe nada. Nada...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

25 de dezembro de 2009

Certa madrugada servirá para pensar: Eu sou uma merda. Foda-se as madrugadas em que o orgulho de si preencheu o ego, engordou-o e depois o matou por soberba. Foda-se também todos aqueles que inventaram os pecados capitais. Invejo-os, pelo poder, mas não cobiço. Deviam ter concedido o pecado da “ignorância maquiada”.
Incompletos em sua magnitude, os “ignoradores maquiados” transgridem as leis religiosas, divinas e humanas e atuam em palcos caseiros. Casas de família ou casas de santeria ou putaria. Ignoram-te ignorando a própria dor. Fingem lhe ferir ferindo os sentimentos pregados pelo tempo. Pensam que há câmeras: Big Brother?E maquiam-se num disfarce acometido de sorrisos mentirosos. E disfarçam-se em uma maquiagem santuária.
Porque é natal. Porque é final. Porque afinal eles te perdoam mesmo se não entenderes o motivo do perdão. Eu sou uma merda. Porque eu deveria ter dito: Tu és um merda! Não. Lavei as mãos, as louças, os pratos em velocidade. Olhei, perguntei, dei tchau, desci. Chorei.
Seu merda! Merda! Merda…

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Partir

Não sentir. Tudo que se quer é não sentir. Por algumas horas, outros minutos ou instantes. Se parada entre o movimento à volta, flutuasse, sem o vento soprando, nem nada. Voar e encontrar outra morada, um ninho à espera, sem que esperasse. Ausência e desapego, só ir, para longe, o desconhecido, onde pudesse jorrar pelo caminho do vôo os sentimentos, e beber do córrego do esquecimento, e então sentir tudo novo e de novo. Sentir sem lembrar. Sentir outras dores, que não as mesmas.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tenho só a vós, se podereis me ouvir

Tenho só,
a voz,
Tenho só, 
a vós,
Tenho só, 
avós.


Um grito
prescrito
do rito
infinito
do esquisito.


O que fala
empala (vras)
se cala
e embala
a própria ala.


Síndrome do si
Si sou eu?
Se sou eu?


Cólera
de cócoras
se expele melhor
decora
se impele melhor
a cólera.


Sui gêneris
suicídio
sua gentileza
gênio-cídio
sutileza.


Grito
Tenho só a voz.





quarta-feira, 13 de outubro de 2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

Sobre a sobriedade cotidiana

Por conta desta minha modernidade eu deixei de te escrever à meia-noite para dizer coisas banais. As estrelas, a lua, as folhas, os cascos. Todas aquelas palavras com significados abstratos.Deixei de contar as flores vermelhas pelo caminho. De anotar quantos senhores de cabelos cinzentos balbuciavam enquanto eu levava comigo meu olhar esnobe sobre as coisas materiais. 


"São as coisas da vida".


Por conta desta minha tecnologia enrustida eu esqueci algumas faces. Afundei lembranças, senti medo do arrepio, corri na faixa de pedestre sem perceber que era minha vez. Nem olhei para trás quando o moço cantarolava em sua bicicleta. Nem para cima quando a chuva estilhaçava sonhos sobre minha cabeça. Também deixei de assistir TV, ler jornais, comprar e comparar revistas. Prendi no sono e acordei sobre uma tábua esverdeada. Caí na escada e caíram os documentos.


"É a lei da gravidade".


Ora, as imagens diluíram-se em azulejos da mesma cor. Os rostos todos em 3X4. A lógica dividiu três em quatro. E as empresas continuaram a terceirizar.Eu continuei escrevendo coisas banais às sete da manhã, ao meio-dia e às seis da tarde.


"Como você está?"

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Poli de dois pólos

Procurei muitos caminhos
Achados, perdidos
Trilhas escuras
Luzes acesas,
Taças, vinhos, cerveja.

Procurei no alto
No ar, no asfalto.
No war! Eu afirmei.
Why dont? Indaguei.
Em francês ou em latim?
Ficaria mais elegante,
Se eu compreendesse mandarim?
Se eu compreendesse o início, o meio e o fim?
Se eu compreendesse aquilo que se faz de mim?

Ficaria mais eletrizante se eu chocasse a mim,
E parti, antes da partida. Já disse assim.

Não há nada que impeça
Nada que segure
Nada que cure,
Não há o tudo sem o nada,
Mas há um meio ali,
Há o caos dentro de si.

Há a mortalha de um animal
A luta por sua sobrevivência,
E outros em subserviência.
Há dor e dogmas,
Há o divino e a ciência,
E a complexidade entre o dito
O não dito, o falado e o escrito.

Há a luta pela vida
O desejo de salvação
A biodiversidade,
Os pontos e a interrogação,
A diferença e a repetição.