Meu café com leite estava amargo naquele dia. Acordara farejando cafeína adocicada. Eu devia saber onde estava o açúcar. Enlouqueci procurando-o, e nada. Engoli gota por gota naquela proporção amarga, coçando a garganta e esquentando o corpo, como uma donzela em trapos velhos. Gargalhei sem saber, despertando o canário da gaiola. Há muito eu me tornara seu despertador e amiga, por sempre prometer sua liberdade. Todas as manhãs o canto daquele animal encoberto de penas, levava-me a uma transcendência inexplicável. Junto do meu café, o canário era o meu melhor companheiro.
Saí dalí, encontrei uma mulher pálida e sombria no espelho embaçado do banheiro. Os olhos fixos dela, fixaram os meus. O canário parara de entoar suas canções doces. O silêncio era total e a umidade tomava conta do azulejo do banheiro. O tempo virou as costas para nós, e o espaço se limitava ao espelho. Tranquei a porta e sentei-me no piso gelado, a mulher desaparecera. Levantei-me e tornei a tocar nas chaves que fecharam a porta, retirei-as da fechadura e as joguei na privada. Olhava para trás e aquela mulher lá estava, estranha, inerte, sozinha. Virei-me novamente e apertei a descarga, sem medo. O barulho da descarga trazia-me lembranças tão alegres, de uma vida feliz. Um sorriso espontâneo se fez em minha boca que sustentava o cheiro do café com leite amargo. Havia um tempo em que existia água, essa era a frase que persistira em minha mente e que nunca conseguira compreender.
Tudo se limitara a água e esgoto: o café, o canário e eu. Até mesmo a gaiola e o banheiro. Eu não suportara saber que houve um período na história da humanidade, em que seres humanos se utilizavam de água potável para suas necessidades básicas.
Deitei-me no piso de temperatura baixa, vagarosamente minhas pálpebras deslizaram e adormeci abraçada a um rolo de papel higiênico, o único objeto que me acompanhou até a ala dos loucos no hospital assustador da cidade. O único com quem pude confidenciar as incertezas da vida sem as abundâncias do passado. Eu seria normal, se não admitisse minha obcecação pelo improvável, provisório, incerto, impreciso. Eu seria normal, se não tivesse repetido a cena e não intervisse no final: Um eco prometendo a minha liberdade, mas desta vez ninguém arrombou a porta.
Saí dalí, encontrei uma mulher pálida e sombria no espelho embaçado do banheiro. Os olhos fixos dela, fixaram os meus. O canário parara de entoar suas canções doces. O silêncio era total e a umidade tomava conta do azulejo do banheiro. O tempo virou as costas para nós, e o espaço se limitava ao espelho. Tranquei a porta e sentei-me no piso gelado, a mulher desaparecera. Levantei-me e tornei a tocar nas chaves que fecharam a porta, retirei-as da fechadura e as joguei na privada. Olhava para trás e aquela mulher lá estava, estranha, inerte, sozinha. Virei-me novamente e apertei a descarga, sem medo. O barulho da descarga trazia-me lembranças tão alegres, de uma vida feliz. Um sorriso espontâneo se fez em minha boca que sustentava o cheiro do café com leite amargo. Havia um tempo em que existia água, essa era a frase que persistira em minha mente e que nunca conseguira compreender.
Tudo se limitara a água e esgoto: o café, o canário e eu. Até mesmo a gaiola e o banheiro. Eu não suportara saber que houve um período na história da humanidade, em que seres humanos se utilizavam de água potável para suas necessidades básicas.
Deitei-me no piso de temperatura baixa, vagarosamente minhas pálpebras deslizaram e adormeci abraçada a um rolo de papel higiênico, o único objeto que me acompanhou até a ala dos loucos no hospital assustador da cidade. O único com quem pude confidenciar as incertezas da vida sem as abundâncias do passado. Eu seria normal, se não admitisse minha obcecação pelo improvável, provisório, incerto, impreciso. Eu seria normal, se não tivesse repetido a cena e não intervisse no final: Um eco prometendo a minha liberdade, mas desta vez ninguém arrombou a porta.
Beli
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