sexta-feira, 1 de maio de 2009

Vertigem

A calçada estava limpa naquelas tantas horas. Estranhei. Parecia estar me esperando. A calçada me causou vertigem, a lua, as poucas estrelas, tudo se fundia no reflexo da poça d' água. Era como um tapete estendido para mim, vermelho envelhecido, estonteante, subjetivo e submerso ao cimento desgastado. Limpa, com uma diminuta quantidade de grãos de areia e pedras banais, a calçada me escureceu os olhos. Um passo a frente, a respiração descontrolada. Mais um passo, paro, piro e desmaio. A calçada conduziu minhas forças para o labirinto dos loucos, insanos e profanos. Era noite, eu desvendei o futuro e previ o jogo com domínio de profeta. Esteta do dia que viria, desenhei uma madrugada pervertida para perder a prisão puritana que envolvia aqueles corpos. E a calçada envolveu toda a minha alma, sugando meu corpo para dentro de sua poça d'água. Agora eram meus olhos que refletiam a lua e as estrelas, agora eu adormeci num cobertor de gotas. O frio que procedeu provinha da ausência das gotículas, era ele, o sol, despertador. Iluminou toda a calçada, suja, seca e empoeirada: Segui um dia amargurado. Um gosto de areia na boca. Um cheiro de noite solitária. O dia pôs as cartas na mesa. Amargura não era, era apenas parecendo real. Deboche, gozo, graça. A calçada independe da hora do dia. Esperou-me para a noite que viria. Dias após dias. Orgias.

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