Zeca acorda. Zeca olha para o teto. Zeca toca levemente o pé esquerdo no chão, devagar o direito. Zeca cruza os dedos,
hoje será um dia de sorte.Zeca anda em direção ao banheiro. Zeca come pão com margarina e mortadela de frango. Zeca é só mais um, cogita. Zeca está na vidraça da loja de terninhos bacanas. Zeca, seu reflexo é pálido, comprido, magro e ossudo. Zeca rasteja em direção ao trabalho. Zeca,
seu babaca! Zeca,
seu detestável! Zeca contorna a calçada, equilibra-se no meio-fio, dá um salto e pisa na grama, como quem quisesse furar a terra. Furar a terra, Zeca, com a furadeira do vizinho. Não. Com a furadeira a imagem e semelhança do
World Trade Center quando ainda estava em pé. Sim. A broca da furadeira, do tamanho do prédio, só para se ter uma referência histórica. Zeca gosta de histórias, prefere as histórias de heróis. Zeca quer ser herói. Zeca está indo ao trabalho. Zeca,
seu babaca! Zeca,
seu detestável! Zeca não lê jornal.
World Trade Center, foi sua mãe que mencionou essas três palavras associadas na semana passada. Nas histórias, Zeca é o herói. Na última, Zeca sobrevoou as montanhas, as quais os jornais chamam de morros ou favelas. Zeca sobrevoou trilhando, passo a passo. Zeca está na penúltima curva de seu local de trabalho. Zeca,
seu babaca! Zeca,
seu detestável! Zeca...mais um Zeca, mais um. Zeca...amanhã é outro dia, Zeca.