domingo, 29 de março de 2009

Teto


Cimento, alumínio, madeira,
Céu, acinzentado, mesclado:

Trovões transitam jejuando
O vento assobia enjuriado.
Uma mulher lê,
a janela se abre, para o lado:

Esquerdo está o duro,
Concreto,
algodão estampado.
Sangue escorre,
o teto manchado:

Nóduas pintam as páginas,
O Impressionismo afogado.
Um ponto separa das nuvens,
Exclama o ato quadrado!

sexta-feira, 27 de março de 2009

Cor da tela en(quadrada)

Que cor é?








































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Verde.

segunda-feira, 23 de março de 2009

8

Senha do jogo
Código da chave
Leitura nas entrelinhas
Furto de privacidade:
Penitenciária virtual.

Algemas, grades, paredes frias
Ilusões, insônia, pupilas dilatadas
Droga, vício, distúrbio bipolar
Modernidade, evolução, era digital:
Fetos programados.
Carimbo fervendo na pele
Neurônios conectando no tempo
Vozes libertando na mensagem:
Cadê o espaço?

sexta-feira, 20 de março de 2009

Corroer


O verbo corrói.
Esse mesmo,
Esse corrói, corrói.
Não é mesmo?


terça-feira, 17 de março de 2009

Ensaio da Noite

Personalidade?

Ela estava a sós. Comprou um batom de tom magenta, um novo micro-vestido, outro belo par de salto-alto-bico-fino. Apreciou o impulso consumista, sem denominar-se como tal. A simplicidade era parte extremista de sua personalidade. Personalidade? Ressentida, refreada, conformada. A casa estava silenciosa, o asfalto suava quente e as pessoas pareciam cimentadas. O velhinho, vizinho da frente, varria a poeira e contemplava o desenho que pairava no ar. Ela também contemplou. Abriu a veneziana e se imaginou encenando um típico romance policial americano, espiou respirando como a protagonista do filme. Contornou as partículas que dançavam no vento, saiu da janela e confortou-se em sua cama. Seu colchão era peculiar, diferente de todos os outros em que ela já havia despido o corpo. Era de manhã, era hora de dormir, era hora de celebrar a noite no dia, era hora de sonhar.
A noite tem sido fria, sombria, tal como o calor do dia. A noite não brilhava mais como quando na sua infância, as estrelas estavam acanhadas, a lua escondia-se, a noite estava mesmo, escura. Ironicamente escura. À noite ela não tem nome, muito menos sobrenome, é ela. Ela. Submetida pelo sol, ela se chama Clara. Clara, ex-esposa, ex- doméstica, ex- fiel. Estava cansada da fidelidade, da conduta das relações, da sua personalidade. Personalidade? Ressentida, refreada, conformada.
Naquele dia, sonhou algo que a fez gargalhar por horas quando acordou: Ela está apaixonada por uma mulher, elas se entreolham, acarinham-se, a mulher vai embora. Logo aparece um rapaz jovem, um rosto andrógino, ela indaga sobre a possibilidade de ver seus órgãos sexuais, ele amigavelmente aceita. Ela está de costas para ele, sentada por sobre suas partes íntimas e de repente vira-se para então fitar os olhos, franze a testa e o nariz. Não se parece nada com o que até então tinha visto nos canais de pornografia, pensa sem falar para ele, como se nunca tivesse olhado para o pênis de alguém. Ela gosta do termo pênis, sempre ressalta o coitado. Pinto, pau, bigulim o deixa pequeno e tímido. Mas em sonhos não é possível controlar, ela está estupefata com aqueles músculos sem pêlos, sem movimentos, sem vida. O que há? Ele pergunta o motivo e ela rapidamente responde, como num jogo de pergunta e resposta, eu gosto de mulheres. É, eu também gosto de homens, ele diz. O sonho acabou, ela acorda, suada pelo calor do dia, tremendo pela veracidade das imagens, gargalha, risos incontidos. Este sonho não fazia parte de sua personalidade. Personalidade? Ressentida, refreada, conformada. Bebe água, muita água para repor as energias, é um novo dia para ela, é o fim do dia para outros.
Comeu bolinho de carne dormido que comprou na padaria pela manhã. Levantou-se, vagueou pela casa, reparou nos retratos sobre a mesa, abriu a geladeira e notou-a vazia. Voltou para o quarto e logo foi ao banheiro para tomar uma ducha, que nem era ducha. Aprendera falar ducha quando trabalhou em uma casa, lá eles tinham a infeliz mania de corrigir seu português ou como ela julgava, corrigir sua maneira simples de dizer as coisas. Ela se perguntava agora, enquanto estava sobre a privada, por que as pessoas são tão escravas da língua. E nisso estava lavando seus cabelos, programando o serviço que ela declarava livre, autônoma, e ainda recebia um bom preço. Ao menos poderia pensar em um dia voltar a estudar e quem sabe, comprar livros e depois até escrever livros. Um dia ela assistiu a um programa do Jô Soares, uma das entrevistadas havia dito que para ser alguém na vida, se pôs a ler compulsivamente. Clara, porém, só havia lido O Doce Veneno do Escorpião, e alguns poucos livros de auto-ajuda. Não importava a quantidade, o que a impulsionava era sua vontade, vontade de reconstruir uma personalidade. Personalidade? Ressentida, refreada, conformada.
Terminou o banho, ou a ducha. Vestiu sua lingerie minimalista, depois o pequeno vestido. Sombreou as pálpebras, escureceu as sobrancelhas, e por fim contornou os lábios carnudos com o batom de tom magenta. Pegou sua bolsa, depositou nela o mínimo que precisava, observou no relógio do celular, eram 18:33. Quase a hora de ir, quase a hora de trabalhar duro. Pensou em assistir um pouco da novela, ou qualquer coisa que pudesse alimentar seu vazio por aquele instante, e então resolveu mesmo é vestir as novas sandálias, que saciavam um velho sonho de consumo. Naqueles poucos minutos, sentada na cadeira da cozinha, recordou-se de Uma Linda Mulher, e cantarolou mexendo os quadris Priri uoman, ólquin daum de striiit. Era a própria Julia Roberts, já que ela não lembrava o nome da personagem. E assim caminhou até a porta, deu seu Check-up final na casa, trancafiou a fechadura, escondeu a chave no velho lugar, fez o sinal da cruz, como de costume. Era de sua personalidade. Personalidade? Ressentida, refreada, conformada.

sábado, 14 de março de 2009

360 graus

Há um gole preso no
nó.

Andar, delinear
os passos contados
dentro, fora
dos rastros do espaço.

Giro fecundo, profundo
Salto liberto, imerso:
na chama
da cama
que ama,
no tédio,
Remédio!

Nobre névoa
da garganta sedenta.

Pular, desfigurar
as faces pintadas
acima, abaixo
do rosto da fada.

Rever, rememorar
a visão retratada

Curva acentuada, demasiada
Reta libertina, vitamina:
pra cópia
dos corpos
em cópula,
Coprófila!

macia, suave
na clave ensolarada.

Fila de filos de falos falantes,
Filha de filhos de falhos falhantes
Uma Felina ferindo a ferida,
da fera forjada e feroz:

Há um contorno em torno
do sol,
Há uma linha infinita
afiada e algoz.

quinta-feira, 12 de março de 2009

quarta-feira, 11 de março de 2009

Código do Prisma

Croma de lua, borbulhavam azuis

No vapor o vermelho despiu o algodão

Rasgando o tecido, a trama da pele

Espumas nos ares da imaginação.

Castelos construídos com dedos

No olhar a pupila deserda a direção

Tatuando desenhos nas curvas do corpo

Sinais proibidos, amamos na contramão.

Ventre.

Fecho os olhos, em cosmos.

Entre.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Poderio

A palavra.
A força da palavra.
O caminho da bruxaria,
A conquista da dor.

Praguejaste!
Pragas de consciência.

Documentos mofados.
Arquivos enjaulados
Na gaiola virtual.
Arquivos dispersos
Em vidraça escura.

Tratados impostos
Submetidos aos fracos.
Aos corajosos.
Línguas cantam na vitrola.
Vozes gritam do lado de fora.
Da janela. E o sol?

O sol em seu reino
O rei dos reis, ora.
Rei de si, rei. Só.
Enxugador de urinas.
Destruidor de ruínas.

A igreja.
A jóia ofuscante.
Os rumores da farsa,
Os ensaios de vida.
Choraste!
Lágrimas em desvaneios.

Fotografias envelhecidas,
Sonham.

terça-feira, 3 de março de 2009

domingo, 1 de março de 2009

Eletro-morte


Não acenda a luz:
Aguarde o impulso.

"Reserve a alma, pura."
Oração ouvida,
Desobedecida no escuro,
Encurvada no latejar:
Cultural.

A fonte chora
O mármore aquece
O vidro protege.

Não compreenda isto:
Duvide sob o sol.