quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Depois da tempestade, uma jovem no parque.

Depois da tempestade, caminhou pelo parque. A calçada úmida e morna, como espelho. Como espelho também o lago, os vidros das vitrines ao lado. As pessoas e seus passos. As pessoas e seus pensamentos, por onde vagueavam? Foi o que sussurrou, tão mais alto do que pensou estar proferindo. Era o fone?Eram as nuvens que havia tocado? Caminhou para livrar os anseios, os transtornos e os demais termos que designam as novas doenças. Cantarolou como se fosse o último minuto a cada instante. Queria ouvir cada acorde das canções. Ia dançar no tapete verde da natureza. Preferiu deitar e contemplar as estrelas. Elas estavam tão pequeninas e radiantes e brilhantes. Redundante? Sempre ouvira dizer que as estrelas eram brilhantes e ofuscantes. Não haviam dito que elas também eram redondas e não cheias de ponta. Onde estão as pontas? Não pôde ver. Há tanto que não se pode ver. Aliás, agora percebera que essas pontas não eram malditas, e assim as outras coisas afiadas que pertenciam ao inferno. Naquele momento quis se sentir dentro de uma estrela para se proteger naquela abominável escuridão. Escuras estavam as sombras das mulheres que perambulavam na rua por perto do parque. Avistava e compreendia o cansaço que delas tomava conta. Enquanto isso ela tomava água e contava as estrelas. Então lembrou do que a havia feito andar em fuga. Aumentou o volume do mp4 e ouviu pela “vigésima” vez a mesma música, outra versão que não a original. Uma lágrima, uma gota de esperança e dois clichês! Não! Quantos clichês! Ah, o amor é um clichê do tamanho desse céu! Não entendeu o final. Afinal, não concordou, mas disse tudo bem. E caminhou. Disse que aceitava. Não contestou os termos. Caminhou. Preferiu calar e sentir. Sentiu tristeza e proferiu um não acredito. Não cria nas suas atitudes covardes. Caminhou. Não quis explicar de novo. Besta! Por isso ela estava ali a se deleitar no vislumbre da imensidão. Quantas palavras estranhas, quantos não ditos, quantos silêncios a invadir a sua mente se misturando com as batidas do violão. E as batidas de um coração devastado pelo vento, também estavam esperançosos como grama após tempestade. Pegou a caneta da mochila e escreveu o trecho da letra nas palmas das mãos

“Eu não vim aqui pra entender ou explicar, nem pedir nada pra mim...

Não quero nada pra mim

Eu vim pelo que sei, e pelo que sei você gosta de mim, é por isso que eu vim...”

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