segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Menina dos Olhos


Castanhos brilhos
Redondos tons.
A máquina centraliza
Funde-se ao meio humano,
Exalando ferrugem
Exaltando vertigem
Exibindo outrem.
Há alguém no espelho
Há uma menina no espelho,
Côncavo.
Mergulhada em náusea
Pensamento trôpego,
Socorro:
Água para polir o estômago.

sábado, 24 de janeiro de 2009

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Rascunho

A dor de um ponto de interrogação
A incerteza da vírgula mal desenhada
A incompreensão do ponto final, final. Final?

Brotou a timidez do ponto de exclamação:
Nasceram pontos, e falecidos acentos
Fomentam o cogito do corpo da escrita. Escrita!

Parágrafos, paráfrases, paradigmas.
Caracteres emudecidos na caligrafia
Dígitos imprecisos e velozes, e as vozes? Vozes.

Expressões espremidas impressas
Verbos varridos vetando vias
Amarras amargas armando palavras:

Palavras. Palavras! Palavras?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

domingo, 18 de janeiro de 2009

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

nº 629


Caminhava na manhã de sábado, a saborear o vento e acariciar os ouvidos com os poucos carros que pelo asfalto quente passavam. Era tudo muito bonito, com suas imperfeições desejadas por mim. De perto eu vi uma praça e sua estátua que cheiravam urina. De longe eu via pessoas conversando, pareciam muito conhecidas, ajudando-se em alguma situação de desespero. Tornei a divagar pela calçada. Olhava cada casa em seus detalhes, percorria suas janelas como se fosse carne humana, nada exaltou minha singular mania de observadora. Quase desisti. Queria voltar. Tentei mais uma vez, de londe avistei um painel de propaganda, era uma casa de esquina, vizinha de um posto de gasolina. Parei. Fixei meus olhos naquela porta. Discorri meus olhos sobre o cimento disforme que vestia a casa. Algumas pessoas que por ali andavam, pareciam estar se perguntando o que eu estava fazendo, ali parada, a admirar aquela arquitetura abandonada. Eu estava absolutamente estupefata, entorpecida por aquelas janelas gastas e seus vidros quebrados, e os que restavam inteiros, refletiam as grandes casas do outro lado da rua, os fios e as nuvens em seus diferentes formatos. Embriagada eu estava por aquelas cortinas rasgadas, eram como pele cortada ao acaso, elas não cicatrizaram, dançando ao soprar do vento. Meu corpo mantinha-se estático, minha mente flutuava, conduzindo-me para mais perto. Cheirei todas as partes da casa, enfiei a cabeça por entre os vidros partidos, e vi com os olhos que aqui me auxiliam na escrita: À esquerda um armarinho, ao lado um rosário de madeira escuro, à minha frente um lavabo só, à direita duas grandes mesas, e longe do alcance de minhas mãos, muito longe encostando-se na parede, uma estante de livros. Tudo empoeirado. Queria entrar ali, escrever por sobre o pó, desenhar nas paredes, roubar aqueles livros. De quem é esse lugar? Indaguei curiosa ao meu próprio eu. Não sabia se havia alguém ou não. Eu estava certa de que ali havia uma história. Aquilo que meus sentidos estavam experimentando, eram fragmentos de uma ou tantas vidas e que pelo menos por aquele instante invadiam a minha, sobrepondo o percurso natural das coisas: Tomei coragem por essa ocasião e bati palmas no nº 629. Até o anoitecer eu esperei. Esperei até o amanhecer. Bebi uma cerveja. Esperei até na segunda-feira. Até no outro mês. Completei quarenta anos em novembro. Esperei. Meu sobrinho passou no vestibular. Meu pai faleceu num acidente. Minha mãe sofre de Alzheimer. Esperei. Meus vizinhos não são mais os mesmos. Presentearam-me com um livro de fotografias nos meus sessenta anos. Esperei. Acho que estou envelhecendo. Esperei toda uma vida. Espero até o final desta. Todos os dias caminho até lá para observar as novas fracções nos vidros, a cor das portas, o cheiro. Cada segundo escorrido em minhas veias não destituíram aquelas vidas. Há algo para viver ali, eu quero saber. Avise-me, antes que meus netos me surpreendam com a festa dos oitenta e cinco anos. Enxergo menos, ouço menos, cheiro menos, sinto menos. Espero. Agora com meus oitenta e seis anos, eu compreendo com capacidade erudita isto que eu sempre quis. Esperar.
Deixo um retrato para o nº 629.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

sábado, 10 de janeiro de 2009

Shopping cêntrico

Vejo crianças,
Sinto-me só, navego
No pó estilhaçado, caio
Na mesmice futura
Do passado de almas distantes.

Vejo performances,
Sinto-me só, embarco
No reflexo gelado, deito
Na mesa inerte
Do movimento ilusório da imaginação.

Vejo luzes,
Sinto-me só, choramingo
Na ausente cor, mendigo
Na praça rascunhada
Do artista projetado em cimento.

Vejo sonhos,
Sinto-me só, recuso
Na promoção curta, repulso
Na condição errada
Do salário pela ficção do herói.

Vejo corpos,
Sinto-me só, reprimo
Na pureza sombria, insisto
No golpe recatado
Do amigo dócil em seu canto amargo.

Vejo atitudes,
Sinto-me só, paro
Na fila invisível, sigo
Na margem torta
Do opressivo inferno em chamas.

Vejo telas,
Sinto-me só, conforto
Na poltrona quente, agonio
Na arquitetura moldada
Da prótese humana despida de-coração.

Um sorvete sem abraço
Lamuriando a solidão, derreto.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Palavras sufocadas

Pouco tenho a dizer
Pouco tenho a escrever
Meu rascunho esvaziou
Minha tinta vazou
Minha fúria inflou.
Apaguei sobre a mesa
Os versos daquele dia
Ensurdecida pelas gotas
Refletida no copo da tempestade
O bilhete veio a óbito
As palavras não mais respiram,
Anjos caídos em minha mente.



domingo, 4 de janeiro de 2009

Falta


É como se eu existisse, ali.
Bem ali.
É como se eu tivesse tido algo, ali
E perdi, perdi.
Bem ali.

sábado, 3 de janeiro de 2009

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Cidades - Plus Ultra



Banda pós-punk de Blumenau. Uma banda muito legal :D
Integrantes: Procópio Joe no vocal, João Cowero na guitarra, Phil emo na batera e Philipe no baixo.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Voar e miar



Liberdade?
Independência?