Se você não se importasse, gostaria de falar das flores.
Só hoje.
Gostaria de falar que as flores são cheirosas, coloridas e macias.
E o sereno?
Já percebeu quando o sereno a deixa úmida? Ela chora. Aquelas lágrimas tão exímias. Distintas de qualquer rosto que já vi chorar. Tenho visto muitos rostos, e poucos são como as flores.
O seu é uma flor imortal, uma flor para mim, concebida por mim. Deveria ser o contrário, não? Eu sei que você não gosta de flores.
Será por isso que não sou mais sua flor? Mas posso ser de um verde escuro, se você quiser. Nego-me a ser espinho. Fui por algum tempo, até que as pontas amarelaram.
Quero ser sua folhagem imortal. Adianto-lhe: Eu não precisarei da sua irrigação, só do seu olhar, o seu apreço. Você adora as folhagens.
E o vento?
Notou que o vento nos une e nos separa?
Quantas flores caídas!
Quantas folhas no chão!
Quantos sim e quantos não, soterrados pelos grãos!
Quantas flores caídas!
Quantas folhas no chão!
Quantos sim e quantos não, soterrados pelos grãos!
Porque são silêncios seus. Silêncios da criadora, da mestra do jardim, da flor que ainda é corada para mim.
Eu não quero ser espinho, para que você possa me tocar. Mais uma vez, como quando brotei.
Ao me ter em seus braços já enrugados como folhas secas, note sua flor a chorar. Note o sereno, e as folhas do caule.
Virtuosa ao lhe ver, espero o vento...
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